sábado, 31 de outubro de 2009

HOSTILIDADE CONTRA A ALUNA DA UNIBAN


Fonte: Folha de São Paulo
São Paulo, sábado, 31 de outubro de 2009
Aluna hostilizada na Uniban diz que professores participaram
Estudante perseguida por usar vestido curto afirma ter "parcela de culpa" no episódio
CRISTINA MORENO DE CASTRO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
JAMES CIMINODA REPORTAGEM LOCAL
Hostilizada por colegas da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) por causa de um vestido curto, a estudante de turismo Geyse Arruda, 20, afirmou ontem na TV que professores e funcionários também participaram do tumulto."Os seguranças da faculdade, no começo, estavam rindo", disse. "Como um aluno vai ter atitude decente se os próprios professores e funcionários apoiam [as hostilidades]?"Geyse deu entrevista de cerca de duas horas ao programa "Geraldo Brasil", da Record, no dia em que deveria depor na sindicância interna aberta para apurar o caso. A universidade não se manifestou ontem.No programa, Geyse chorou e relatou sua versão da noite em que teve de sair escoltada por PMs para se proteger de cerca de 700 alunos "descontrolados". Ao fim da atração, trocou a blusa preta de manga comprida e o jeans que usava pelo vestido rosa-choque que causou a confusão. Antes, recusou três vezes o pedido do apresentador Geraldo Luís.A jovem também assumiu parte da culpa pelo tumulto. "Posso ter errado por ter ido com o vestido. Mas o ato de vandalismo que fizeram comigo não se faz com ninguém."Ela disse que volta ao curso na terça-feira, "não para afrontar ou causar polêmica".Quando o apresentador perguntou por que Geyse só usava esse tipo de roupa, ela respondeu: "Acho que um vestido em uma mulher é extremamente feminino. Minha roupa só diz respeito a mim, respeito todo mundo e quero ser respeitada".Ela foi comparada pelo apresentador a Maria Madalena. Rafael Bruno, 22, do curso de administração da Uniban, fez analogia similar. "Parecia uma igreja evangélica cheia de fanáticos. A hipocrisia era igual."Alunos do mesmo campus onde Geyse estuda concordam que a universidade não soube controlar o tumulto.Renato Di Giacomo, 23, estudante de logística, diz que a jovem deveria ter sido barrada na entrada por estar usando "trajes inapropriados".Thaiza Andreone, 22, do curso de administração, comenta que faltou pulso firme. "Foi uma reação em cadeia provocada pelos próprios alunos. Toda hora chegava alguém na minha sala para falar da saia da menina. Imagine o que vão pensar desta universidade, onde os alunos tomam conta desse jeito? Parece colégio..."Thaiza diz que Geyse não é a única a usar roupas "ousadas" na faculdade. "Sempre tem umas meninas de top. Eu mesma uso minissaia e vestido curto, então isso tudo é uma tremenda hipocrisia."

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Dissertação: Como justificar a reação em cadeia contra a aluna da Uniban que usava vestido muito curto?
2-Narrativa: A protagonista (nome fictício) conta como foi hostilizada em uma universidade por usar roupa curta ou outra roupa que a diferenciava dos demais colegas.

3-Carta ao reitor da Uniban posicionando-se sobre o que aconteceu lá com a aluna Geyse, e pedindo providências de acordo com o seu ponto de vista.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

EM DISCUSSÃO, AS BRINCADEIRAS INFANTIS

Fonte: Folha de São Paulo
São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009
RUBEM ALVES
PÓ DE GIZ

Meu revólver de brinquedo do tempo de menino não era a profecia de um futuro criminoso; era brincadeira
OITO e trinta da manhã. Toca o telefone. Jornal "CBN Total". O Heródoto Barbeiro queria me entrevistar. Queria saber o que eu pensava de algo que estava ocorrendo com as crianças numa cidade do Rio Grande do Sul, cujo nome eu esqueci e que estava provocando reações espantadas, nervosas e indignadas entre educadores, pais e autoridades.Não havia teoria que explicasse o que as crianças estavam fazendo e, muito menos, que indicasse rumos de ação para pôr um fim naquela coisa perigosa e jamais imaginada.Tudo tinha a ver com uma brincadeira nova que as crianças haviam inventado: pegavam pó de giz e faziam de conta que o pó branco era cocaína. Faziam, então, pacotinhos e se punham a campo brincando, cheirando, vendendo e comprando. Brincavam de traficantes.Pais, professores e autoridades ficaram apavorados, certos de que essa brincadeira anunciava vocações criminosas embutidas: as crianças que brincavam com o pó branco corriam o risco de se transformarem em consumidores, traficantes e criminosos quando adultos.Acho que o barulho que os adultos estão fazendo é mais nocivo que o pó de giz. Digo isso a partir da minha própria experiência de menino. Naqueles tempos, a gente gostava de brincar com aqueles revólveres que imitavam os revólveres dos mocinhos e dos bandidos e que davam um estalo de espoleta quando se apertava o gatilho.Mais sofisticadas eram as pistolas automáticas, que usavam não espoletas isoladas uma a uma, mas fitas em que as espoletas iam estourando automaticamente. Domingo de tarde, revólver na cintura, cara de valente, andando com as pernas abertas era uma felicidade.Mas nunca vi sombra de preocupação no rosto do meu pai e de minha mãe. O meu revólver de brinquedo não era a profecia de um futuro criminoso.Como nem sempre eu tinha dinheiro para comprar os meus revólveres, tratei de produzi-los artesanalmente usando bambus, elásticos de borracha, madeira e canos de guarda-chuva. Esses, sim, eram perigosos. Porque a gente enchia os canos metálicos com pólvora e era preciso calcular muito bem a quantidade de pólvora. Se a pólvora fosse demais, o cano podia explodir. Aconteceu com um amigo e, por causa disso, ele perdeu um olho.E o ponto alto da brincadeira era no fim da tarde, a meninada toda armada, mocinhos e bandidos. "Carmoni ai!", a gente gritava, para informar o outro que ele acabava de ser atingido por uma bala certeira. Ah! Vocês não sabem o que é "carmoni". "Carmoni" era a transformação linguística do que mocinho e bandidos falavam: "Come on...".Um brinquedo adulto semelhante à brincadeira com o pó de giz são os filmes de crime e violência. Ah! Como eles atiçam nossos impulsos sádicos. Vocês não podem imaginar quantas cabeças eu fiz rolar com minha afiadíssima espada de samurai depois de ver o filme "Shogun". Mas até hoje não decapitei ninguém, embora frequentemente o faça nas minhas fantasias.Eu gostava de caminhar por um parque pelas manhãs. Passavam por mim umas meninas com cara de devassidão para brincar de terem passado a noite em orgias sexuais e bebedeiras e com um cigarrinho pendurado nos beiços...Isso acontecia e acontece todo dia em todos os lugares. Mas não me consta que pais, educadores e autoridades fiquem nervosos como ficaram diante da brincadeira com o pó de giz... Tranquilizem-se. Elas não estão anunciando uma vocação de vida devassa. É brincadeira. Igual a das crianças que brincam com o pó de giz...

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Dissertação: Brincadeiras infantis com pó de giz imitando cocaína e com revólveres de brinquedo podem gerar futuros criminosos?

2-Narração: O protagonista foi uma criança tímida, bom aluno, que brincou muito pouco, e que na vida adulta cometeu um crime que chocou a todos.

3-Carta a Rubem Alves comentando o seu artigo, concordando ou discordando das ideias expostas pelo autor.

4-Dissertação: Aguns videogames podem desencadear um comportamento violento em crianças e adolescentes?
adolescentes

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

HÁBITOS IRRITANTES E PERIGOSOS

Fonte: Folha online
26/10/2009 - 18h51
Usar celular é o hábito mais irritante de motoristas, indica pesquisa britânica
da BBC Brasil
Motoristas que falam no celular enquanto dirigem são a maior fonte de irritação para os britânicos no trânsito, segundo uma pesquisa.
Cerca de mil pessoas participaram do estudo, encomendado pela empresa Autonational Rescue, que oferece serviços de socorro a motoristas cujos carros quebram nas estradas do Reino Unido.
Dessas, 64% consideram o uso do celular o comportamento mais irritante.
Ultrapassar em situações perigosas e "cortar" (ou "fechar") outros motoristas são, nessa ordem, o segundo e terceiro pior hábito dos que dirigem no país.
Correr demais, bloquear a faixa do meio e dirigir muito devagar também foram incluídos na lista dos piores hábitos.
Motoristas britânicos, assim como brasileiros, são proibidos de usar o celular quando dirigem a não ser que usem um fone de ouvido acoplado ao aparelho ou um sistema de viva-voz, de forma a manter suas mãos livres.
Mas segundo o gerente de marketing da Autonational Rescue, Ronan Hart, muitas pessoas não se dão conta de que a proibição também se aplica quando o motorista está parado no sinal ou no congestionamento.
"A única exceção válida é se você usa o telefone para discar 999 (número do serviço de emergência britânico) em uma emergência verdadeira quando não seria seguro parar", disse Hart.

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Dissertação: Os hábitos mais irritantes dos motoristas.

2-Narração: O narrador-personagem conta uma experiência traumática viveu no trânsito devido a um mau hábito.

3-Carta endereçada a um motorista de nome imaginário, condenando um hábito irritante que ele possui.

COMPORTAMENTOS E PROPAGANDAS

Fonte: Folha de São Paulo
Folhateen
São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009
02 NEURÔNIO02neuronio@uol.com.br - 02neuronio.blog.uol.com.br

Jô Hallack - Nina Lemos - Raq Affonso
Comportamentos humanos estranhos
A FELICIDADE DOS CASAIS E A EXIBIÇÃO
Ainda não conseguimos desvendar alguns comportamentos da humanidade (e olha que a gente se esforça faz tempo). Por exemplo, por que as pessoas convidam uma pessoa solteira para um jantar de casal? É assim. Eles chamam dois casais e mais uma amiga solteira. Será que a ideia é exibir a "felicidade" para alguém? A solteira seria a plateia? Será que eles acham que fazer esse tipo de convite é justo e que a solteira em questão vai se divertir? Ou será que o solteiro é uma espécie de álibi para ninguém achar que eles só fazem "programa de casal"? Não, não queremos ser puxadinho da felicidade alheia. Sugestão para esses casos: dizer não. E eles que pensem, que digam e que falem.
DIA DAS BRUXAS NO BRASIL?Também não entendemos por que as pessoas insistem em comemorar o Halloween no Brasil. Fomos criadas em uma época em que era feio ficar copiando as festas dos outros países, principalmente dos Estados Unidos. E deve até ser legal sair por aí fantasiado pedindo doce ou castigo quando se é criança. Mas quem é que brincou disso na infância? Ninguém! Então por que vamos celebrar na adolescência e na vida adulta uma coisa que nunca comemoramos na idade certa, quando tínhamos cinco anos?!E quem precisa de Dia das Bruxas quando se tem o Carnaval? Aliás, Cosme & Damião, alguém se lembrou? Não somos bruxas de mau humor. São apenas (bons) resquícios de uma criação "brinquedo educativo".

AS MULHERES E AS PROPAGANDASQuase todo comercial de bebida tem uma "gostosa" no meio. Não sabemos quando esse fetiche surgiu, mas achamosumtanto quanto bizarro. E uma marca de refrigerante super famosa resolveu inovar: inventou um aplicativo do iPhone que "ajuda" os homens a conquistar muitas mulheres, oferecendo vários tipos femininos e um painel que mostra as conquistas do usuário. Tudo isso pra promoverum novo energético. O aplicativo Amp Up Before You Score também permite que os rapazes adicionem mulheres reais com nome, data do encontro e comentários, e compartilhe isso nas redes sociais. Pegou mal.O diretor de marketing da empresa pediu desculpas, mas disse que não vai tirar o aplicativo do mercado. Nunca gostamos de energético e, com certeza, esse nunca vamos tomar. Nós e uma legião de mulheres que achou essa ideia "genial" o fim da picada.

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

Com base nos textos acima, escreva:

1-Dissertação: O ser humano é especialista em ter comportamentos estranhos.

2-Narração: O narrador-personagem conta a confusão em que se envolveu por ter aceito jantar com dois casais que o conheciam.

3-Dissertação: Comemorar o Dia das Bruxas no Brasil faz sentido?

4-Narração: Fatos estranhos e inexplicáveis ocorrem durante a Festa do Dia das Bruxas.

5-Dissertação: A exploração da figura feminina nas propagandas de bebidas.

sábado, 17 de outubro de 2009

EM DISCUSSÃO, O VOTO DIRETO PARA REITORES DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Fonte: Folha de São Paulo

São Paulo, sábado, 17 de outubro de 2009
Roberto Leal Lobo e Silva Filho: Uma universidade não é um país-->Texto Anterior Próximo TENDÊNCIAS/DEBATES
Universidades públicas deveriam adotar o sistema de eleições diretas para reitor?
NÃO Uma universidade não é um país
ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO

APROXIMA-SE o pleito que irá escolher o novo reitor da USP.Neste momento de confronto de ideias típicas das campanhas políticas majoritárias voltam à baila questões relativas às formas de eleição da mais importante universidade brasileira, que, segundo levantamento da Universidade de Xangai Jiao Tong, na China, é a melhor colocada no item "qualidade acadêmica" dentre todas as latino-americanas.Os princípios da democracia política que o Brasil vive nos fazem acreditar que o voto direto pode ser a solução de todos os problemas, até das universidades públicas. Seria, então, a eleição direta para reitor um fator determinante para a melhoria da qualidade de uma universidade pública?Essa questão esbarra inevitavelmente na compreensão de que uma universidade pública deve ser instituição autônoma, mas não soberana como um país democrático, em que representantes são eleitos por todos e suas decisões incidem sobre todos.No serviço público, os efeitos de decisões equivocadas de poucos recaem sobre a população como um todo, e não só sobre a sua comunidade interna. Não faria o menor sentido se, para facilitar seu trabalho, os funcionários dos Correios decidissem, por maioria, não entregar cartas em dias ímpares.O sentido da democracia no setor público é a busca da excelência em seus serviços, uma vez que a sociedade é quem o financia e sofre por causa de seus equívocos e ineficiências.Por essa razão, talvez, é que, dentre as 50 universidades mais bem colocadas na classificação já citada -e que coincide com o senso comum em relação às melhores universidades do mundo-, a eleição direta não é prática adotada para a escolha do reitor.Dentre elas, 37 são americanas. Nelas, o processo de eleição do reitor é feito por um comitê composto por representantes de segmentos da sociedade, alguns externos ao corpo acadêmico.Em enquete realizada pelo professor Jacques Marcovitch, ex-reitor da USP, boas universidades estrangeiras consultadas manifestaram-se contra o modelo de eleições diretas.É importante que a comunidade acadêmica, a imprensa e a sociedade reflitam sobre esse fato e não tomem como óbvio o argumento de que aquilo que se denomina "democratização", representada pelo voto direto, induz automática melhoria da qualidade das atividades acadêmicas. A realidade mundial contradiz tal tese, que não tem fundamento empírico.Ao concluir que a eleição direta não é fator intrínseco de qualidade para as universidades, ao contrário do que pregam seus defensores, essa tese, tida como uma conquista, não esconderia uma visão corporativista de universidade voltada para si mesma?Equivocadamente, entendeu-se a autonomia universitária no Brasil como a absoluta ausência de prestação de contas, na contramão da experiência internacional. Lá fora, cobram-se resultados acadêmicos e administrativo-financeiros das universidades, indicadores que se refletem, cada vez mais, em seus próprios orçamentos.Infelizmente, nossas universidades ainda não desenvolveram processos profundos de avaliação, inclusive da gestão e com forte participação externa, que sejam capazes de gerar consequências internas significativas.Se houvesse um efetivo acompanhamento da sociedade em relação à missão das universidades, a metas e resultados e ao impacto social de suas ações, a forma de eleição seria menos relevante, uma vez que maus resultados seriam cobrados da comunidade interna, e decisões corporativistas que não levassem em conta os interesses da sociedade seriam coibidas.Nas instituições brasileiras que hoje promovem eleições diretas, é comum ouvir dos gestores eleitos que, em virtude dos compromissos eleitorais, se veem limitados a fazer concessões políticas que impedem as mudanças necessárias.Em vista disso, para que a escolha de seus dirigentes seja mais do que uma decisão politicamente correta ou um fim em si mesmo, é preciso que a gestão da universidade seja capaz de induzir melhores resultados, garantir a qualidade dos processos internos e a defesa da meritocracia acadêmica.
ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO , 71, professor titular aposentado e ex-reitor da USP (1990-1993) e da Universidade de Mogi das Cruzes (1996-1999), foi diretor do CNPq e é presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia.Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.


São Paulo, sábado, 17 de outubro de 2009
TENDÊNCIAS/DEBATESUniversidades públicas deveriam adotar o sistema de eleições diretas para reitor?
SIM Sistema atual é autoritário e elitista
JOÃO ZANETIC

SOU A favor de eleição direta para reitor(a) da USP por entender que é o processo mais democrático para uma decisão tão importante.Considero extremamente autoritário o atual processo estatutário de escolha de reitor(a), que ocorrerá nas próximas semanas. Creio que um breve histórico auxiliará o leitor a compreender por quê.Em 1964, em decorrência do golpe militar, ao lado da nova palavra de ordem "abaixo a ditadura", o movimento estudantil empunhava a bandeira da reforma universitária.Dentre as principais reivindicações dos estudantes de então, três continuam atuais: 1) democratização da estrutura de poder nas universidades: eleição direta de reitor e diretores de unidades, com participação paritária de docentes, funcionários e estudantes; 2) autonomia universitária nos âmbitos didático-científico, administrativo e de gestão financeira e patrimonial; 3) abolição da cátedra e criação de estrutura departamental, com colegiados democráticos.No decorrer da ditadura militar, essas reivindicações do movimento estudantil foram incorporadas pelas entidades representativas de docentes e funcionários das universidades. E, após a redemocratização, algumas foram incorporadas à Constituição Federal, tornando-se um importante referencial para a definição da política de ensino superior.Destaco dois dos artigos da Constituição relacionados à eleição direta para reitor: "Artigo 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...) VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei"; "Artigo 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão".Em função desses dispositivos, até meados dos anos 90, muitas das universidades públicas federais e estaduais organizavam votações paritárias para reitor, cujo resultado era homologado pelos colegiados formais.Em decorrência da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (1996), a maioria das universidades passou a definir um colégio eleitoral com 70% de professores, 15% de funcionários e 15% de estudantes, convertendo também, em paralelo, os pesos atribuídos a cada categoria nos processos de consulta direta.É algo próximo desses números o que ocorre na indicação de reitor na Unesp e na Unicamp, embora sua eleição não seja tão democrática como nas universidades federais. Isso porque, enquanto nas federais permite-se a candidatura aos professores doutores, na Unesp e na Unicamp só podem se candidatar professores titulares (nível máximo da carreira).Mesmo assim, essas duas universidades estaduais fazem um processo oficial de consulta em que todos podem votar para reitor -logo, muito mais democrático que o vigente na USP, que nem sequer obedece à LDB.Na USP, o processo de indicação de reitor começa com um primeiro turno, em que votam cerca de 1.900 pessoas, das quais só 12% representam os estudantes e funcionários. Assim, são "eleitos" oito professores titulares, cujos nomes são submetidos ao segundo turno, que escolherá três deles.O inacreditável, e provavelmente caso único no planeta, é que o colégio eleitoral do segundo turno é reduzido para 330 pessoas (0,3% da população uspiana) e, nele, os professores titulares têm uma presença em torno de 85%, os estudantes, de 12%, e os funcionários, de mero 1%.Finalmente, numa espécie de terceiro turno de um só eleitor, a lista tríplice é encaminhada ao governador, que escolhe o nome de sua preferência. O que fere a autonomia da universidade, estabelecida no artigo 207 da Constituição Federal.A comunidade da USP continua lutando pela convocação de uma estatuinte livre e exclusiva, que insira na vida da universidade, entre outras, a bandeira histórica de eleição direta paritária para reitor. Situa-se nesse âmbito a eleição democrática para reitor(a) que a Adusp promoveu em 14 e 15/10. Ao contrário do que pregam os arautos da competição e do produtivismo, a atividade acadêmica gera os melhores frutos num contexto solidário e democrático.
JOÃO ZANETIC é professor do Instituto de Física da USP e presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP).Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

QUESTÕES:
1-Com qual tese você concorda? Justifique.

2-A Universidade pública ainda é muito distante dos alunos?

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Dissertação: Eleições diretas para reitor nas universidades públicas?

2-Narrativa: Um aluno é punido por protestar contra algumas regras da universidade que ele considera autoritárias.

3-Carta a um dos articulistas discordando das suas colocações.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

VOCÊ É A FAVOR DA ESCOLHA DO RIO COMO SEDE DA OLIMPÍADA DE 2016?

Fonte: Folha de São Paulo


São Paulo, sábado, 03 de outubro de 2009



TENDÊNCIAS/DEBATES

A escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016 é uma boa notícia para o Brasil?
SIM

Uma grande oportunidade

MAURICIO MURAD

TANTAS EXPECTATIVAS e dúvidas, mas está decidido: os Jogos Olímpicos de 2016 serão no Rio de Janeiro. Agora, o importante é o que vamos fazer com essa grande oportunidade. Não podemos perdê-la. Somos bons em diversos esportes, não só no futebol. Neste, é consenso internacional que sobramos. Como identidade cultural, só nossa música se iguala ao futebol.
O Rio venceu fortes concorrentes. Foi escolhido, apesar da violência, da infraestrutura precária, da rede hoteleira insuficiente (transatlânticos virão para a orla carioca para ampliar a oferta de quartos), do trânsito/transporte, da poluição da baía de Guanabara (um dos compromissos do Pan 2007, com tecnologia e balsas australianas, lembram?), da corrupção, da impunidade (o TCU não engoliu as contas do Pan) e das politicagens em todos os níveis.
Nada disso é novidade hoje, embora seja tudo alarmante. A novidade é o que podemos ganhar com os Jogos.
O Comitê Olímpico Internacional e seus investidores exigem muito, cobram resultados, mas também ajudam com segurança, turismo, saúde, educação, meio ambiente.
Com essa gente, não tem brincadeira. Os interesses são enormes, e prazos, metas, orçamentos e compromissos têm que ser cumpridos. Uma boa oportunidade para o Brasil experimentar coletivamente novos conceitos, melhores valores e mentalidades.
A Constituição diz que o esporte é direito do cidadão e dever do Estado.
Que os governantes respeitem a Constituição para que o legado dos Jogos (o do Pan 2007 foi lamentável) se traduza em benefícios para a população, principalmente para seus segmentos mais necessitados, tão carentes de oportunidades e políticas públicas de inclusão social.
A FGV fez estudo e projetou resultados animadores: os Jogos de 2016 no Rio podem repercutir em todo o Brasil até 2020, pelo menos. Isso, claro, se as coisas forem bem feitas.
Como prevê o COI: avaliar, planejar e investir no curto, médio e longo prazos; mapear e intervir nos problemas, com ações socioculturais de alto nível; aproveitar ao máximo o evento antes, durante e depois.
É um direito e um dever ir além do campo esportivo, agregar valores e realizações que fiquem. Temos um histórico de vitórias esportivas. É hora de outras conquistas. Os Jogos são uma chance rara de ajudar a construir e a cumprir esse plano estratégico.
Os ganhos nos níveis do emprego direto e indireto na cultura, na segurança, na educação e em outros domínios são conhecidos. Mas também são conhecidas experiências com baixo resultado.
O Rio é, historicamente, uma cidade esportiva e tem tudo para servir de bom exemplo. Depende de nós: governos (sobretudo), empresários, universidades, escolas, comunidades.
O Brasil precisa ganhar uma alma nova e passar suas instituições a limpo. Que tal aproveitarmos os investimentos e a pressão internacional que virão com os Jogos para fazer da segurança, do meio ambiente, da geração de empregos e da escola verdadeiras prioridades? Não é porque nos falta isso -os críticos têm lá as suas razões- que devemos ser contra a Olimpíada no Rio. Que tal fazermos desse megaevento um meio para melhorarmos em diversos aspectos?
Novos conceitos de cidadania, desenvolvimento e valorização do esporte educacional, envolvimento das escolas e do professorado e uma política de longo prazo para as áreas esportivas são legados exigidos pelo COI. Não são favores, são direitos previstos e bem vistos pelo comitê e por seus patrocinadores.
Temos que fazer mais, organizar melhor e controlar os custos. Bilhões estarão em jogo e sob avaliação internacional. Nossa imagem também.
Esporte é uma atividade socioeducativa, uma expressão de identidade, um fator de socialização. Os esportes contribuem para aproximar da sociedade aqueles que a economia e a política afastam. Nenhum evento esportivo resolverá nossas questões básicas, estruturais e históricas, mas poderá ajudar. E como!
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MAURICIO MURAD , sociólogo, doutor em sociologia do esporte, é professor da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da Universo.



A escolha do Rio como sede da Olimpíada de 2016 é uma boa notícia para o Brasil?
NÃO

Uma grande hipocrisia

ALBERTO MURRAY NETO

A DECISÃO do Comitê Olímpico Internacional foi indigna. Mais do que isso, foi hipócrita. Tentaram fazer história à custa do desespero dos pobres. Não acredito que haja no COI alguém que ignore os gravíssimos problemas sociais do Brasil.
Se essa pessoa existe, não merece estar lá. Ou melhor, merece, sim.
Quem achou que fez história ao "dar os Jogos à América do Sul, em razão de seu caráter universal", não pensou no movimento olímpico. Pensou em si mesmo e nos próprios interesses. Daí a hipocrisia.
O Brasil e o Rio são carentes de tudo. Não há escolas, hospitais, moradia, transporte público, alimentação para os pobres, luz elétrica, saneamento básico, esporte etc. As pessoas continuam morrendo de sede, de frio, de bala perdida etc. O Rio é a porta de entrada para o Brasil, o que nos dá visibilidade no exterior. A cidade tem tido a má sorte de, há anos, ser maltratada por políticos incompetentes e mal-intencionados.
Se alguém acha que daqui a sete anos o Rio estará livre dos traficantes de droga e dos tiroteios, que o trânsito será fantástico, que haverá hospitais de qualidade, escolas públicas de excelente nível para todas as crianças, praças esportivas populares espalhadas pela cidade, pessoas morando condignamente, só para citar alguns exemplos, escolha uma bela praia e espere deitado. Para não se cansar.
Nada, rigorosamente nada vai mudar. A baia da Guanabara, por exemplo, vai permanecer um dos locais mais poluídos do mundo. Bela, mas de cheiro insuportável. Uma coisa, na cabeça dessa gente, é certa: o povo, pobre povo do Rio de Janeiro, que se lixe!
Tudo isso é assunto que deverá ser acompanhado de perto. Sei que gente boa do Rio criou algumas ONGs para fiscalizar o uso do dinheiro público.
Que elas trabalhem muito e façam o papel que os organizadores não terão coragem de fazer.
Que essas ONGs escancarem os números, as licitações públicas e quem estará por trás de cada empresa vencedora -isso quando houver a tal licitação. Que o TCU e o Ministério Público não se apequenem e cumpram o seu papel constitucional.
População carioca, assim que a festança acabar, cobre, fique de olho. Não se deixe enganar. Quero ver a patota olímpica fazer em sete anos o que já deveria ter sido feito há mais de 20.
Ainda assim, acho que os atuais administradores do esporte olímpico devem sair. A renovação, salutar em quaisquer circunstâncias, deve ser feita com muito mais razão, até para dar maior transparência ao que ocorrerá à partir de agora. Se permanecerem os mesmos, o final da história já se sabe. Basta ver o Pan e multiplicar por mil o tamanho do escândalo.
Que venha a lei que limita as reeleições indefinidas, já valendo para os atuais mandatários. Já que o COI cometeu essa ignomínia, que se ponha gente do bem para administrá-la.
Nada do que foi escrito e falado sobre a candidatura por quem a ela se opôs é inútil. Tudo, agora com muito mais razão, deverá ser aplicado e observado. A doutrina olímpica da honestidade vai sempre prevalecer.
Venceram, pela coragem do que disseram, tantos e tantos nomes da imprensa, do esporte e da sociedade civil criticando essa manobra olímpica. Que todos continuem seu belo trabalho de fiscalização, agora redobrado.
As obras olímpicas serão muito mais caras, haverá denúncias, escândalos, atrasos nas construções e, acima de tudo, não vão entregar o que prometeram.
Aqueles que gravitam no entorno do movimento olímpico brasileiro vão ficar ouriçados. Viva a agência de turismo! Bravo para a corretora de seguros! Estupendo para a empresa que comercializa os ingressos! E a empresa de marketing esportivo, que vibre muito! As construtoras vão dividir a fatia do bolo? Vai ter construtora falida reerguendo-se à custa desse projeto megalômano? Haverá licitações públicas? Os fornecedores de serviços terão que contratar "consultorias" de terceiros estranhos ao negócio?
Disseram aos brasileiros e aos cariocas que os Jogos Olímpicos seriam a solução dos seus problemas. "Olimpiator Tabajara", seus problemas acabaram. O Nuzman agora vai virar o "Seu Creysson".



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ALBERTO MURRAY NETO , 43, advogado, é árbitro da Tribunal Arbitral do Esporte, em Lausanne (Suíça), e diretor da ONG Sylvio de Magalhães Padilha.
www.espn.com.br/albertomurrayneto

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

QUESTÕES:

1-Comente a tese exposta no primeiro artigo, emitindo a sua opinião.

2-Comente a tese exposta no segundo artigo, emitindo a sua opinião.

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Dissertação: Olimpíada no Rio em 2016: uma oportunida ou uma hipocrisia?

2-Narração: Um jovem atleta sem recursos conta as suas dificuldades para conseguir apoio para treinar e competir em uma Olimpíada.

3-Carta ao autor do artigo com o qual você não concorda, criticando o posicionamento expresso no texto.