POBRE HAITI
JAIME LEITÃO
O mais pobre país das Américas sofreu na noite da última terça-feira uma das maiores catástrofes da sua história. Não bastassem os terremotos políticos, as ditaduras, como a de François Duvalier, o Papa Doc, e, depois, do seu filho, Baby Doc, durante mais de três décadas, cometendo carnificinas monstruosas, o Haiti também é vítima constante da natureza.
O terremoto que soterrou milhares de pessoas, o mais forte em 200 anos, é explicado geologicamente pelo fato de o país ficar assentado entre duas placas tectônicas. Quando elas se movem e se tocam provocam tragédias incalculáveis.
Ao assistir pelo Youtube aos primeiros vídeos com as imagens da capital Porto Príncipe, após o sismo, fiquei profundamente sensibilizado com o desespero daquelas pessoas que corriam e gritavam sem rumo, enquanto outras jaziam no chão, sem que ninguém pudesse fazer nada.
Comecei a refletir em seguida sobre a vida inglória dessa população de dez milhões de habitantes, que vem ao longo das décadas e dos séculos suportando todo tipo de agressão e assim mesmo mantém com a máxima dificuldade e quase total escassez de recursos um espírito de luta e um apreço pela música e pelas suas tradições.
A morte da médica sanitarista e grande defensora dos pobres Zilda Arns, no terremoto do Haiti, que há décadas viaja pelo Brasil e por outros países lutando contra a desnutrição , representa a tragédia dentro da tragédia. Para o Brasil, perder Zilda Arns significa perder uma das pessoas mais sensíveis às causas sociais, sem demagogia, com trabalho honesto e dedicação permanente.
Enquanto líderes dos países ricos encontram-se periodicamente em reuniões de cúpula para discutir a fome no planeta, sem solucionar o problema, Zilda Arns, que foi candidata ao Nobel da Paz, é um exemplo de que a ação pode ir além do discurso e fazer a diferença entre a erudição vazia e a busca de resultados concretos.
A sua morte no Haiti, ao lado de milhares de haitianos, simboliza o encontro de seres marcados pelo sofrimento com aquela que fez muito durante a sua vida para que a pobreza no mundo diminuísse. Atuou da melhor maneira. Se os que podem fossem na mesma direção, o mundo seria bem menos injusto.
Os que se omitem deveriam se espelhar nessa mulher extraordinária e tornar o Haiti propriamente dito e outros Haitis que há no planeta, inclusive no Brasil, onde a miséria impera ainda em muitos lugares, locais em que a vida humana seja tratada com dignidade.
Sem proporcionar a todos os seres humanos o mínimo para a sua sobrevivência, incorremos em um crime global, que de uma certa forma nos macula a todos. O grito dos haitianos em meio ao terremoto não sai dos meus ouvidos. Uma imagem como essa não trata de números, mas exibe vidas torturadas, ameaçadas, procurando um jeito de sobreviver em meio aos escombros.
PROPOSTAS TEMÁTICAS:
1-Dissertação: Zilda Arns: ação no lugar do discurso.
2-Dissertação: O Haiti é resultado da soma das tragédias: as naturais e as geradas por políticos tiranos e corruptos.
3-Narração: Relato de um jovem universitário, que sobreviveu ao terremoto no Haiti, contando como está iniciando a reconstrução da sua vida e da própria universidade que ficou em escombros após o terremoto.
4-Crônica: Como não se sensibilizar com uma tragédia humana como a que ocorreu no Haiti?
5-Poema: A destruição e a reconstrução
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
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