quarta-feira, 21 de abril de 2010

BRASÍLIA CINQUENTENÁRIA





OS CINQUENTA ANOS DE BRASÍLIA

JAIME LEITÃO


Hoje, Brasília completa cinquenta anos. Não é uma idade avançada para uma pessoa, que geralmente atinge o seu auge nessa fase da vida. Muito menos para uma cidade, tão complexa e controvertida.
A primeira vez em que estive em Brasília foi na década de 1960, oito anos após a sua inauguração. Fiquei hospedado com o meu pai, tio, primo e amigos em um hotel de madeira. Restou do tempo da construção da cidade. Havia ainda um ar de renovação pairando sobre nós. Brasileiros de todas as regiões chegavam para conquistar o futuro.
A minha sensação foi de deslumbramento: a arquitetura dos palácios, as linhas curvas, os jardins, parecia um paraíso. Foi um passeio rápido que durou dois dias, mas o suficiente para me encantar com a cidade majestosa.
Dez anos depois retornei a Brasília para morar e lecionar. Cheguei à noite, em um vôo turbulento da Vasp, e me senti como se estivesse em um deserto. Onde estava a cidade que eu havia conhecido uma década antes? Eu não me encontrava no eixo monumental, mas em uma superquadra, sem esquina, e com uma arquitetura bem diferente daquela que conhecera quando fui como turista.
A frieza de Brasília me fez concluir que faltou um planejamento daquele espaço para ser um local acolhedor, humano, não ilhas setorizadas, sem comunicação entre si. Árida Brasília, cidade do poder, da burocracia, em que a vida não flui como em cidades que não foram planejadas.
Sobrevivi lá só seis meses e fui embora sem vontade de retornar nem a passeio. Continuo considerando Brasília um lugar belíssimo para se conhecer e para visitar por poucos dias. Lá, eu me sentia como um astronauta em treinamento aguardando a hora de ser lançado ao espaço. Brasília me sufocou.
O próprio Oscar Niemeyer, que arquitetou a nova capital, juntamente com Lúcio Costa e toda uma equipe idealista, reconhece que a sua idéia de criar uma cidade com menos distorções do que as demais falhou. Algumas cidades-satélite de Brasília hoje possuem população bem acima do esperado, vivendo cercadas pela violência e miséria.
A distância dos grandes centros talvez favoreça a corrupção, que há pouco se mostrou desenvolta, no escândalo do mensalão, envolvendo governador, secretários, deputados. Gostaria de utilizar a data de hoje para homenagear Brasília e Juscelino Kubistchek, mas prefiro provocar a reflexão de urbanistas e arquitetos, no sentido de propor a eles projetos para humanizar a cidade onde o poder se concentra de uma forma avassaladora, minimizando os problemas que advêm dele.
A maior obra arquitetônica de Brasília eu considero a catedral, com os anjos suspensos no azul circular dos vitrais, demonstrando uma leveza que o conjunto da cidade não aparenta. Que Brasília seja mais leve, nos próximos cinquenta anos, em todos os sentidos. É a nossa capital, e continuará sendo por muito tempo.

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Escreva uma narrativa que se passe em Brasília na época da fundação, em 1960.

2-Escreva uma narrativa que se passe em Brasília nos dias de hoje.

3-Escreva um diálogo entre uma pessoa que ama Brasília e outra que não se sentiu bem quando morou lá.

4-Escreva uma crônica sobre Brasília.

5-Escreva uma dissertação que tenha como tema: Como Brasília reflete a realidade do Brasil?

6-Se você conhece Brasília, escreva um relato das impressões que teve ao visitar essa cidade.

7-Crie um snúncio promovendo Brasília. Pode ser também um antianúncio, um anúncio crítico e irônico.

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