segunda-feira, 4 de maio de 2009

DEBATENDO O TOQUE DE RECOLHER

Fonte: Folha de São Paulo

São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009


Comportamento

Patrulhas fazem a lei valer
Cidades abordam jovens nas ruas de maneiras diferentes

Eduardo Anizelli/Folha Imagem

Conselheira tutelar pede RGs, em Ilha Solteira

DO ENVIADO ESPECIAL A ILHA SOLTEIRA (SP) E A FERNANDÓPOLIS (SP)

Em Fernandópolis (SP), são 23h30 de uma sexta-feira (24/4). Dois camburões da Polícia Militar e dois carros da Polícia Civil sobem na calçada do restaurante Varanda Espeto.
Dos veículos, descem correndo homens que usam farda ou roupas pretas dos pés à cabeça. Todos com arma no coldre. Clientes se assustam.
Parece cena de filme de ação, mas é a ronda do toque de recolher, que a Folha acompanhou. Ela acontece uma vez por mês, em média, sem data marcada.
Depois de não acharem nenhum menor no "point" da cidade, a blitz volta a rodar. A próxima investida é em um bairro mais pobre.
De repente, outra freada: 12 componentes da ronda correm. Cinco pessoas são revistadas, com as mãos contra um muro.
Dois dos revistados são adultos. Um deles carrega uma arma. É preso em flagrante.
Os demais são adolescentes (um garoto de 17 anos e duas meninas, uma de 16 e outra de 15) e não têm álcool ou drogas, mas são apreendidos por estarem na rua àquela hora.
Ao entrarem no prédio do Conselho Tutelar, são recepcionados com broncas pelo juiz. À 1h30, são levados para casa -os pais de dois deles não foram encontrados.

Palavrinhas "mágicas"
"Podemos ver seu RG, por favor?" É assim que a ronda de Ilha Solteira aborda três pessoas (que provariam ser adultas), à 0h30 de um domingo (26/4). A ronda sai diariamente, com carros da PM, da Guarda Civil e do Conselho Tutelar. As sirenes ficam desligadas.
No dia em que a reportagem acompanhou a ronda, foram as conselheiras que falaram com quem estava na rua depois das 23h. Com todos, usaram as "expressões mágicas": "Por favor", "com licença" e "obrigada".
Mesmo quem não tivesse idade para estar na rua era tratado com gentileza. Como a menina de 16 anos que disse estar indo buscar a irmã, à 1h.
Ela pede que o amigo, adulto, vá na frente, falar com sua mãe, antes de ela chegar, escoltada. "É para ela não infartar."
A ronda espera por cinco minutos. Ao chegar, a mãe recebe a filha chorando. (CF)

A favor

"É o jeito de melhorar"
"Sou a favor do toque de recolher. É o único jeito de melhorar a cidade. Com o toque de recolher, não vai ter mais roubo nem tráfico ou brigas. Os jovens estão muito envolvidos com isso.
Hoje em dia, tem gente de 17 anos empinando moto pelas ruas daqui.
O toque não mudou meu dia a dia, até agora. É porque não saio à noite, mesmo. Se eu tiver vontade de ficar na rua daqui a dois ou três anos, vou achar ruim. Mas, mesmo assim, vou ficar dentro de casa, sabendo que não posso, por causa dos outros.
A única coisa que mudou por causa do toque foi o horário do meu catecismo. Antes, ia até 19h30. Agora, que tenho que estar em casa às 20h30, adiantaram, para terminar às 18h30.
No ano passado, quase roubaram a moto do meu pai, que estava estacionada na frente de casa. Eram dois menores, que não foram presos."

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RUBENS ALEXANDRE COSTA JUNIOR, 13, mora em Ilha Solteira

Contra

"Vai ser pior no verão"
"Acho o toque de recolher bem ruim. Antes, eu ficava até as 22h na rua, agora tenho de voltar às 20h30.
Quando eu podia ficar na rua, ia para a casa de amigos, conversar, ou para LAN houses, jogar. Nesta semana, fiquei jogando computador, sozinho, em casa.
Tomara que não dê certo esse negócio de toque. No horário de verão, vai ser bem pior do que agora, por causa do calor, que dá vontade de ficar na rua.
Eles dizem que o toque existe por causa da maconha e de outras drogas, que são proibidas. Mas quem quiser pode dar um jeitinho de conseguir, de qualquer jeito.
Às vezes, saio "correndo" de bicicleta, para comprar Coca-Cola na padaria. Tenho medo de que me peguem no caminho, mas acho que minha mãe não ficaria brava comigo, porque ela sempre sabe onde estou. Ela ficaria brava com os policiais."
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LUCAS BARBOSA DE OLIVEIRA, 13,
mora em Ilha Solteira

QUESTÔES:
1-Você é a favor do toque de recolher para menores? Justifique.

2-Que outras medidas podem ser tomadas para diminuir o uso de drogas e a violência entre adolescentes?

PROPOSTAS TEMÁTICAS:
1-Escreva uma dissertação que tenha como tema: Em pauta, o toque de recolher.

2-Escreva uma narrativa que tenha como protagonista um jovem que resistiu ao toque de recolher. Conte as consequências para ele dessa reação contra a lei que vigorava na cidade em que morava.

3-Escreva uma carta ao juiz de menores de sua cidade, colocando-se contra ou a favor do toque de recolher.

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