terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A CRISE AINDA NÃO ACABOU

REFLEXOS DA CRISE
JAIME LEITÃO

Uma crise econômica, como a que atacou o mundo no ano passado, não passa sem deixar rastros de destruição significativos. É como um terremoto. As suas conseqüências são sentidas durante anos ou décadas.
Pode parecer um exagero essa afirmação, já que os líderes de vários países, incluindo Lula, declararam o fim da crise e, no caso específico do nosso presidente, que a mesma não passou aqui de uma marolinha.
O presidente do Banco Mundial Robert Zoellick, que participou no último final de semana da reunião de cúpula anual da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia, afirmou que espera que estejamos entrando em um período de recuperação mundial, mas ressaltou: "Estimamos que 64 milhões de pessoas em todo o mundo entrarão na faixa de extrema pobreza devido à crise."
É necessário fazer uma leitura cuidadosa dessa afirmação. São 64 milhões de habitantes dos países pobres ou em desenvolvimento que, por terem perdido o emprego no período da crise, padecerão de fome e de outras carências neste ano. Ele não se referiu aos milhões de pessoas que já vivem nessas condições há bastante tempo e que não receberam dos governos dos seus países nem dos países ricos recursos para que saíssem dessa situação desesperadora.
Zoellick disse que o banco utilizará o seu esquema de subsídios diretos para “mitigar a pobreza.” Que isso seja feito de fato: é intolerável ler nos noticiários informações sobre índices de crescimento econômico para 2010 e 2011, deixando em último plano, esquecido, o crescimento da pobreza no mundo, como se esses dados não fossem importantes e devessem ser esquecidos.
Crescimento econômico só é completo e faz sentido se vier acompanhado de crescimento do padrão de vida da população como um todo. Se uma parte melhora de vida, justamente aquela que está no topo da pirâmide, isso não significa que quem está na fatia mais embaixo melhorou de vida também. Geralmente ocorre o contrário, como deixou claro o presidente do Banco Mundial, não um contestador do sistema econômico, mas um dos seus maiores representantes em termos mundiais.
Ler os indicadores econômicos de forma simplista, sem relacioná-los com uma realidade maior, é reduzir o mundo ao eixo da prosperidade, excluindo o eixo daqueles que vivem na mais extrema pobreza. Se essa análise tivesse sido feita há décadas ou há séculos, e transformada em ação, talvez a miséria no mundo hoje fosse bem menor. E não acredito na visão daqueles que afirmam que querer debelar a miséria não passa de utopia. Esse é um argumento cômodo e sórdido para manter tudo como está.
É claro que a miséria não é combatida de maneira instantânea, mas pode diminuir sensivelmente em algumas décadas, se houver vontade e determinação para que isso aconteça.

Propostas temáticas:

1-Dissertação: A crise econômica tem um tempo de duração muito maior entre as classes mais pobres.

2-Dissertação: Os índices de crescimento econômico mascaram os índices de crescimento da miséria.

3-Narração: O narrador-personagem conta o seu drama de viver crise diária para conseguir alimento para a sua família.

4-Crônica: Desde que nasci, só ouço falar em crise.

5-Poema: Palavras em crise

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