quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O TROTE VIOLENTO

SELVAGENS URBANOS
JAIME LEITÃO

Selvagens só deveriam ser encontrados na selva. A própria palavra nos remete a essa idéia. Mas hoje é mais fácil encontrar selvagens no espaço urbano do que na selva.
Pelo menos é o que parece pelos acontecimentos que temos observado.
Assaltantes em cidades dos mais variados portes, além de roubar, costumam agredir as vítimas com selvageria. É isso. Coisa de selvagem, mas nunca moraram na selva.
Hoje, vi na televisão um relato de mais uma cena praticada pelos selvagens urbanos. Um estudante que acabou de ingressar no curso de veterinária da Unicastelo, em Fernandópolis, foi selvagemente forçado a beber cerveja, cachaça e álcool combustível, além de ser estapeado pelos veteranos . Entrou em coma alcoólico e ficou traumatizado de uma tal forma que dificilmente terá condições psicológicas de estudar nessa universidade.
Alguns dias antes, um estudante de 15 anos, que havia sido aprovado para entrar no Colégio Naval em Angra dos Reis, foi, segundo os seus familiares, submetido a trotes violentos, tanto físicos quanto psicológicos, que provocaram o seu internamento em um hospital psiquiátrico. A denúncia é que veteranos e oficiais teriam participado desses maus-tratos. Trotes em escolas militares não são novidade. Há até estudos antropológicos e teses sobre o tema, mas eles continuam a ocorrer.
Entra fevereiro, as aulas têm início em muitas universidades e, com elas, começam as temporadas de trotes imbecis, primários, que consistem em obrigar os calouros a rolar na lama, a nadar mesmo sem saber, a tomar banho de óleo e a beber cachaça e até álcool para veículos.
Muitas universidades proibiram o trote selvagem, primitivo, e adotaram o trote cultural e solidário, mas enquanto os praticantes dessa ação sórdida não forem punidos com a expulsão e um processo-crime, os veteranos de várias faculdades romperão o cerco e continuarão agredindo quem deveria ser recebido da melhor maneira porque esse período representa uma mudança significativa na vida desses estudantes.
É um ritual de passagem, mas que tenha brincadeiras, encenações, espetáculos de mímica, gincanas criativas, para marcar positivamente esse momento. Chega de suportar violência gratuita. Como confiar no futuro em profissionais que agem como se fossem trogloditas, dispostos a até a matar, por brincadeirinha? Se algo mais grave acontecer, dirão ao delegado: “Estávamos só nos divertindo um pouco, doutor.”Diversão com prejuízo da saúde física e mental alheia não é diversão, mas agressão e, num nível mais agudo, tentativa de homicídio, o que prevê pena de prisão. Pelo menos isso deveria acontecer se as leis no nosso País fossem realmente cumpridas. Infelizmente, impunidade é uma palavra que circula livre no Brasil, principalmente quando envolve pessoas endinheiradas.

Propostas temáticas:

1-Dissertação: O trote troglodita.

2-Narração: O narrador-personagem conta as humilhações e violências que sofreu logo que chegou à faculdade no primeiro dia de aula.

3-Carta argumentativa: ao reitor da universidade em que o seu filho acabou de ingressar, protestando contra o trote violento a que ele foi submetido. Use a máscara, identificando-se como a mãe do aluno.

4-Crônica: Trote poderia ser um evento mais criativo e interessante.

5-Dissertação: Impunidade para quem tem uma condição econômica privilegiada.

Nenhum comentário: