quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

ASTROLOGIA E CIÊNCIA


Foto tirada do blog astrologa-marilza.blogspot.com

FOLHA EQUILÍBRIO
São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

NEUROCIÊNCIA

Suzana Herculano-Houzel
Astrologia e autossugestão

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[...] Caímos feito patos em definições da nossa essência, basta que contenham elogios genéricos e críticas positivas
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Parece que, poucos dias atrás, os céus nos prepararam uma conjunção especial: a lua em Libra na casa sete, Júpiter e Marte alinhados em Aquário. Nessas condições, tem-se "The dawning of the Age of Aquarius", como anunciava a canção do musical "Hair", na qual "A paz guiará os planetas, e o amor dirigirá as estrelas".
Não sei, não. Com o risco de incorrer na ira dos astrólogos, vou dizer com todas as letras: todos os estudos controlados de que tenho notícia, até os mais simples feitos em sala de aula e em cursos de estatística, refutam qualquer influência direta dos astros celestiais sobre nossa índole, personalidade ou destino. Sim, aquele mapa astral feito especialmente para a data e hora do seu nascimento "descrevia você perfeitamente" até a raiz dos cabelos.
Mas um mapa feito para a sua vizinha também serve para você, assim como um horóscopo bem feito se aplica a qualquer um (ou você acredita que só existam doze tipos de pessoas, e que o mesmo acontecerá a cada dia com 1/12 delas?).
Caímos feito patos em definições da nossa essência, sejam elas feitas por astrólogos, tarólogos ou cartomantes. Basta que elas contenham elogios genéricos o suficiente ("Você é uma pessoa bondosa") e críticas positivas à nossa personalidade ("Você tem dificuldade em dizer não aos amigos") para que até o mais cético dos humanos se identifique. Coisa do cérebro, que adora encontrar padrões em tudo o que vê -e cujas autoavaliações são sempre tingidas de cor-de-rosa.
A astrologia, contudo, pode ter uma influência indireta sobre nossos destinos -assim como a homeopatia, aliás (pronto, arranjei encrenca com duas classes profissionais no mesmo dia).
Ambas nos sugestionam, ou seja, levam o cérebro a crer que é um bom dia para decisões financeiras/um novo amor surgirá em breve/será preciso lutar contra opositores/as crises de alergia vão diminuir. E, assim, saímos de casa para encarar o dia já mais confiantes/amorosos/ belicosos/desestressados, e -espanto!- de fato tomamos boas decisões ou brigamos com tudo e com todos, conforme a profecia do dia.
Por isso, acho que o poder (comprovado, por sinal) da autossugestão deveria ser suficiente para que astrologia, cartomancia e similares fossem regulamentados: nada de previsões negativas ou catastróficas, por favor.
Quanto à Era de Aquário...
Até meu cérebro, descrente, foi sugestionado. Passei o dia todo cantarolando: "When the moon is in the seventh house..."

QUESTÕES:

1-Você concorda com a neurocientista quando ela afirma que os benefícios da astrologia e da homeopatia só existem porque o nosso cérebro é presa fácil da autossugestão?

2-Você acredita em astrologia?

3-E nos benefícios da homeopatia?

5-E nos livros de autoajuda?

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Escreva uma narrativa em que o protagonista acreditava cegamente em astrologia, não fazina nada sem consultar os astros.

2-Escreva uma dissertação que tenha como tema: O NOSSO CÉREBRO NECESSITA DE AUTOSSUGESTÃO?

3-Escreva um depoimento em que você conte um fato em que você se deixou guiar pela autossugestão.

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SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora do livro "Fique de Bem com o Seu Cérebro" (ed. Sextante) e do site "O Cérebro Nosso de Cada Dia" (www.cerebronosso.bio.br)

suzana.herculano-houzel@grupofolha.com.br

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