segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O PERIGO DE VIVER NO PILOTO AUTOMÁTICO



São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

New York Times, reproduzido pela Folha de Sâo Paulo



LENTE

EXISTO, LOGO VIVO EM PILOTO AUTOMÁTICO
À medida que a tecnologia se sofistica, ela pode estar empurrando as mentes humanas na direção oposta. Artefatos como GPSs, celulares e geladeiras high-tech estão dizendo às pessoas o que fazer e como fazê-lo melhor. A vida passou a girar menos em torno da tomada de decisões complexas e mais em não precisar pensar ou fazer grande coisa.
"Pesquisas mostram que, quando você acrescenta complexidade ao processo decisório, algumas pessoas optam por não escolher nada", disse John Gourville, professor da Escola de Administração Harvard, ao "New York Times". E um consumidor que não escolhe é precisamente o que as empresas não querem.
Os celulares podem ajudar. Japoneses vêm utilizando uma espécie de cartão de crédito virtual dentro de seus celulares para pagar ingressos, passagens ou comida, escreveu Leslie Berlin, do "New York Times". A tecnologia "passe e pague" acelerou a passagem pelo caixa e pode levar as pessoas a comprar mais. Não é mais preciso procurar a carteira dentro da bolsa nem contar o dinheiro nela.
"É fácil. É prático. Ajuda você", disse Key Pousttchi, diretor do grupo de pesquisas Wi-mobile, da Universidade de Augsburg, Alemanha.
Facilidade e conveniência são também o que todos querem na cozinha. Novos softwares para celulares ajudam a organizar as compras e o preparo das refeições, escreveu Julia Moskin, do "New York Times". Quem ainda precisa do livro de receitas da vovó, quando há receitas que podem ser baixadas na web, programas para listas de compras e um cronômetro que deixa os ovos quentes no ponto exato?
Alguns chefs chegam a usar um BlackBerry para comunicar-se com seus subordinados, em vez de falar com eles. É o caso de Floyd Cardoz, do restaurante Tabla, em Nova York. Se vê um de seus assistentes errar no preparo da comida, "mando um e-mail para todo o mundo imediatamente", disse ele.
Como se as pessoas ainda precisassem de mais uma desculpa para não falar umas com as outras ou sair de casa, agora também é possível eliminar as idas ao supermercado com o aplicativo Ikan. Antes de jogar fora uma embalagem de ketchup ou cereal matinal, o usuário pode scanear o código de barras com seu Ikan. O aparelho vai acrescentar o produto a uma lista de compras. Com um clique, tudo pode ser encomendado e entregue em casa.
E o que será da interação médico-paciente? Para as pessoas que têm dificuldade em lembrar-se das dosagens dos remédios, o problema foi resolvido. "A Philips Research, da Holanda, desenvolveu um protótipo de comprimido programável para dirigir-se a um ponto problemático específico do corpo e depositar sua substância medicamentosa ali, enviando informações atualizadas ao médico, via rádio, ao longo do percurso", escreveu Anne Eisenberg no "New York Times". O iPill poderá ser empregado um dia para tratar desordens do trato digestivo.
Mas, com todas essas razões para não fazermos muito esforço, a desordem mais comum de hoje talvez seja o fato de as mentes humanas estarem funcionando no piloto automático. Um artigo publicado no periódico "Sleep Medicine" falou de um sonâmbulo que enviava e-mails enquanto dormia. O neurologista Fouzia Siddiqui disse no artigo: "O caso demonstra que um paciente poderia fazer outras coisas durante episódios de sonambulismo".
Como, por exemplo, passar pela vida, simplesmente.

QUESTÕES:

1-Qual é a tese que o autor defende? Você concorda com ela? Justifique.

2-Como você encara o caso do sonâmbulo que enviava e-mails enquanto dormia?

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Escreva uma dissertação que responda à pergunta: "Será que o ato de pensar está saindo de moda?

2-Escreva uma narração que conta história do sonâmbulo que enviava e-mails e fazia outros usos do computador durante o sono.

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