sábado, 7 de fevereiro de 2009

O BBB EM QUESTÃO




ISTO É
Edição 2048
11-2-2009

Trecho de entrevista


Daniel Filho
"O BBB é um circo humano"
por Francisco Alves Filho


Para Daniel Filho, as emissoras concorrentes não melhoraram; foi a Globo que não mexeu em sua programação
A ncorado numa bilheteria de mais de quatro milhões de espectadores com o filme Se eu fosse você 2, Daniel Filho tornou-se o cineasta brasileiro de maior sucesso nos últimos anos. Se a isso se somar o primeiro episódio, são quase oito milhões de ingressos vendidos. Apesar do sucesso de bilheteria, Daniel é cobrado: "Dizem que tenho uma narrativa televisiva." A crítica se deve ao fato de ele ser ex-diretor da Rede Globo, emissora que ajudou a criar e cujo padrão de qualidade teve sua participação. "Eu trago sobre a minha cabeça uma coisa que se chama plim plim", diz Daniel. Mas os tempos de tevê ficaram para trás e hoje ele raramente para diante da telinha - e, quando isso acontece, não gosta do que vê. De seus tempos de comandante na Globo, resta no ar apenas o Fantástico, que ele critica e considera longe de ser "o show da vida" de antes. Aos 71 anos, Daniel Filho acaba de se separar de sua quarta mulher, Márcia Couto, com quem foi casado por mais de duas décadas. Suas outras ex-mulheres são as atrizes Dorinha Duval, Betty Faria e Regina Duarte. Tem dois filhos (um deles é a atriz Carla Daniel) e três netos. Do estilo rigoroso e por vezes irascível do qual muitos atores reclamavam pelos corredores da Globo, pouca coisa sobrou. Daniel é hoje um homem que esbanja bom humor. Trabalha na sua própria produtora, a Lereby, e continua no cargo de diretor artístico da Globo Filmes.

ISTOÉ - O sr. sente que seu trabalho é reconhecido?
Daniel Filho - A crítica cinematográfica realmente não é muito gentil comigo. Há um pé atrás, um preconceito por eu ser uma pessoa oriunda da televisão. Dizem que tudo o que faço é televisivo, dizem que a minha narrativa é claudicante, pedestre, ou qualquer coisa assim, por ter o estilo da tevê. Não entendo o que isso quer dizer. Outros dizem que faço sempre o mesmo gênero. Juro que pensava que estava fazendo obras diferentes.

ISTOÉ - A que atribui esse tratamento?
Daniel - Preconceito. Tenho sobre a minha cabeça uma coisa que se chama plim plim. Os anos e anos em que estive na Globo me marcaram. Sou um dos fundadores da emissora, o criador do seu padrão de qualidade. Isso é uma coisa que me acompanha. Outro dia estava andando na rua e uma senhora veio reclamar comigo da novela. Tentei dizer para ela que não tenho nada a ver com aquilo. Mas ela não me ouvia, me dizia o que eu deveria fazer com a trama. Tentei dizer que não estou na tevê há nove anos. Ela não me ouviu. Então, para me livrar da situação, lhe disse: "Ok, vou fazer o que a senhora está dizendo." E fui embora.


"Juntei pela primeira vez nas telas Tony Ramos e Glória Pires. Não basta ter bons atores. É preciso química"
ISTOÉ - O sr. vê televisão?
Daniel - O cinema foi me ocupando e tenho de ver muitos filmes. Não tenho visto tevê. Assisto a alguns trechos de programas, novelas, seriados. Via um pouco mais no ano passado.

ISTOÉ - Gostou do que viu?
Daniel - Não. As tramas têm muitos atores e personagens e, para um telespectador eventual como eu, fica difícil assistir e saber do que se trata.

Vejo e me pergunto: "Essa pessoa está chateada por qual motivo?" Antes as novelas eram mais concisas, e uma das coisas que eu fazia como noveleiro era estabelecer que em todos os capítulos se deveria laçar quem estava assistindo àquilo pela primeira vez. Era uma lei da novela. Esse excessivo número de personagens talvez se deva ao fato de elas serem muito longas. Não é fácil fazer 220 capítulos com uma hora de duração.

ISTOÉ - A tevê não prende sua atenção?
Daniel - A última vez que me vi sentado e fiquei um tempo diante da telinha foi por causa de um programa muito ruim. Não vou dizer qual. Fiquei tão abismado diante do que estava assistindo, era tão mal representado, inverossímil, que eu fiquei paralisado.

Isso é um tipo de fascínio típico da televisão. No cinema, a pessoa levanta e vai embora. No caso da tevê, a pessoa fica assistindo. Minha mãe disse uma vez uma coisa muito engraçada.

Ela acompanhava uma novela da Rede Manchete, e dizia: "É muito ruim." Um dia eu lhe perguntei: "Mas mamãe, se é ruim, por que a senhora assiste?" Ela respondeu: "Quero ver até onde eles vão chegar."

ISTOÉ - O que acha do Big Brother?
Daniel - Aquilo é um circo humano. As pessoas ganham dinheiro, se tornam atrizes, saem peladas numa revista, são convidadas para baile de debutante. Dentro do que se propõe é benfeito, mas não deixa de ser um circo humano. Isso existe desde tempos antigos, tinha o Coliseu, onde as pessoas eram entregues aos leões. Agora é gente comendo gente.

ISTOÉ - O ibope da Rede Globo tem di minuído paulatinamente. Foi ela que piorou ou as emissoras concorrentes melhoraram?
Daniel - As concorrentes não melhoraram. Tenho muitos amigos na Globo, mas sou obrigado a dizer que ela está precisando dar uma mexida na grade de programação. Não estou lá e é fácil falar como crítico, sem saber as dificuldades pelas quais estão passando. Apareceu o João Emanuel Carneiro e fez uma novela policialesca (A favorita), mas sem uma coisa vital para esse gênero, que é amor. Quem manda na diversão é a mulher e ela gosta de ver beijo na boca.

ISTOÉ - Mas para que o beijo na boca dê audiência é preciso que o par tenha carisma. O sr. vê atores com essa qualidade?
Daniel - Tem pares aí, sim, mas pode ser que as pessoas não tenham encontrado a química. Quando coloquei Glória Pires e Tony Ramos para estrelar o filme Se eu fosse você, era a primeira vez que trabalhavam juntos. Eu não sabia. Não é só pelos atores, há também o cozinheiro, que deve saber juntar os ingredientes. Há atores bem competentes por aí; agora a junção deles nos papéis depende dos cozinheiros.

QUESTÕES:

1-O ex-diretor da Globo Daniel Filho afirma que o BBB é um circo humano. Você concorda com essa afirmação?
2-Você costuma assistir ao BBB? O que o mais o atrai nesse programa?

PROPOSTAS TEMÁTICAS:

1-Escreva uma dissertação a partir da pergunta: O BBB acrescenta algo ao telespectador?

2-Escreva uma carta ao Pedro Bial, apresentador do BBB, fazendo críticas ao programa.

3-Escreva uma narrativa em que o narrador-personagem conta por que ficou traumatizado com a sua participação em uma das edições do BBB, devido a alguns métodos utilizados no programa, como tortura psicológica. É um texto de ficção, então você não deve ficar preso à realidade.

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