segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

TROTE DE ELITE

FOLHA DE SÃO PAULO


São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009


FERNANDO DE BARROS E SILVA


SÃO PAULO - Vejo o gorducho que se aproxima da janela do carro com cara de bebê chorão. Tem três bolas de tênis nas mãos, o cabelo empastado, a camisa emporcalhada de tinta. O gorducho colorido que passa humilhado por mim não é um malabarista da fome. É um calouro. Estamos numa esquina movimentada do Pacaembu, e ele deve ser um dos felizardos cujo papai pode pagar até R$ 2.490 por mês -custo do curso de artes plásticas na Faap- para sua bela formação.
Será que a faculdade oferece a seus artistas a disciplina optativa Malabarismo nas Ruas 1, indicada para os tempos de crise?
Nosso 01 não estava só. Por volta das 11h, estudantes repletos de energia e cachaça se aglomeravam, trançando entre os carros. No meio-fio, uma moça chacoalha a garrafa para verificar o que resta do que parecia ser uma boa ideia.
Não vou dizer que essa juventude está perdida. Toda juventude sempre está perdida. Mas quase ninguém pensa como o escritor Paul Nizan: "Eu já tive 20 anos, não me venham dizer que é a mais bela idade da vida". É sintomático que esses jovens ricos e felizes comemorem sua passagem à fase adulta -e o ingresso numa escola de ensino superior- com um ritual assim estúpido, regressivo, fascistóide.
Ao mesmo tempo em que despejam um sadismo pouco velado sobre suas vítimas, torturando-as como se fosse só brincadeira, os veteranos escarnecem, junto com elas, dos verdadeiros malabaristas da moenda social brasileira.
Isso quando não chegam às vias de fato: outro dia, em Campinas, estudantes abordaram um morador de rua a pontapés e rasparam seu cabelo à força. Para esses pitboys, a melhor escola seria a cadeia.
Nem é preciso ir tão longe para barbarizar. Ao exigir dos calouros que se comportem como pedintes nos semáforos, os estudantes protagonizam, sem se dar conta, uma espécie de teatro da crueldade social, no qual encenam a sua própria inconsciência, ou o completo alheamento do país em que por acaso vivem. Que pessoas são e serão essas?

QUESTÕES

1-Qual é a sua opinião em relação aos trotes considerados violentos, em que os calouros são obrigados a se embriagar e sofrem diversas humilhações e até agressões físicas?

2-Você concorda com a prática de os calouros imitar os meninos de rua fazendo malabarismo no semáforo, por ordem dos veteranos? Justifique.

3-O trote cultural seria uma boa alternativa a esses trotes convencionais? Como você pensa que deveriam ser feitos esses trotes?

PROPOSTAS TEMÁTICAS

1-Escreva uma narrativa em que o narrador-personagem relata a violência e as humilhações que sofreu durante o trote, quando ingressou na faculdade.

2-Escreva uma dissertação que tenha como tema: Trote: um ritual de passagem necessário ou uma prática medieval?

3-Escreva uma carta argumentativa ao articulista da Folha Fernando de Barros Silva criticando as colocações que ele faz no seu artigo em relação ao trote.




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Um comentário:

Anônimo disse...

Muito caro Jaime,

Vim ver quem era o meu seguidor do mapa de viagens, que na verdade é o meu blog teste, e portanto fechado ao público em principio. Mas não tem porblema nenhum e fiquei muito orgulhosa de ter um seguidor ali. Gostei também muito do seu blog! convido-o a vir visitar-me no de-grau.blogspot.com , que é o meu verdadeiro blog.
Um grande abraço
Cristina /Popelina